viernes, 6 de abril de 2012



Exclusivo: Argentina investiga desaparecimento de pianista brasileiro

Tenório Jr., pianista de Vinícius de Moraes, desapareceu em 1976 em Buenos Aires

Por Tatiana Merlino
Caros Amigos

Passados mais de 35 anos, as reais circunstâncias da morte de Francisco Tenório Jr., o Tenorinho, pianista de Vinícius de Moraes que desapareceu em março de 1976, em Buenos Aires, podem ser esclarecidas.

O procurador federal argentino da causa penal da Operação Condor, Miguel Angel Osorio, que investiga delitos praticados pela aliança político-militar criada entre ditaduras da América do Sul para coordenar a repressão a opositores, abriu, no mês de fevereiro, uma investigação formal sobre as circunstâncias da morte de Tenorinho. “E como estou investigando formalmente a morte do músico, entre outras coisas pedi a extradição de Vallejos”, disse à Caros Amigos, em entrevista ao telefone, durante sua breve visita ao Brasil, para participar do 5º Encontro Latino Americano Memória, Verdade e Justiça, ocorrido em Porto Alegre (RS), nos dias 29, 30 e 31 de março.

O argentino Claudio Vallejos, que afirma ter atuado na repressão a presos políticos na Esma (Escola de Mecânica Armada), um dos maiores centros de detenção clandestina da Argentina durante a ditadura no país (1976-1983), onde cerca de cinco mil pessoas foram mortas e desaparecidas, foi preso no começo de janeiro acusado de estelionato. Em 2010, o argentino, que vive há mais de 30 anos no Brasil, já havia sido preso pela Polícia Civil por estelionato.

Em 1986, durante entrevista à revista "Senhor" (nº 270), ele admitiu ter matado 30 pessoas e falou sobre o destino de diversos brasileiros nas mãos da ditadura argentina. Entre eles, Sidney Fix Marques dos Santos, Luiz Renato do Lago Faria, Maria Regina Marcondes Pinto de Espinosa, Norma Espíndola e Roberto Rascardo Rodrigues. Afirmou, também, ter participado do assassinato do pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Jr., o Tenorinho. O músico, que não militava em nenhuma organização, tocava com Vinícius de Moraes em Buenos Aires, na Argentina, em 1976, quando desapareceu após sair para ir a uma farmácia. Seu corpo nunca foi encontrado.

Durante o encontro ocorrido em Porto Alegre, o procurador argentino Miguel Osorio mostrou uma cópia do documento referente à abertura do processo relativo ao pianista desaparecido. Veja trechos da conversa com Osorio.

Caros Amigos - Quando e como foi o início da causa penal da Operação Condor e há quanto tempo o senhor atua na causa?
Miguel Angel Osorio - A causa que hoje se conhece como Condor se inicia em 1997, considerando os delitos se chamam de delitos permanentes. Assim, com esse conceito jurídico começamos a investigação que em princípio não se chamava Condor, e tinha o nome de um general que é réu. E depois foram se incorporando casos e a causa se desmembrou, foram abrindo-se conjuntos de investigações. Assim, em 97 em algum momento começou a se configurar o que hoje se chama Causa Condor, e nesse momento temos quase 200 casos em curso de investigação.

CA - E sobre a prisão de Claudio Vallejos, o senhor acha que ele pode ajudar na elucidação do Plano Condor?
MAO - Na verdade, não acredito nem desacredito. Eu pedi a sua prisão concretamente a partir das declarações que ele fez há pouco tempo depois de sua prisão, no final de fevereiro. O período de detenção está tramitando e então veremos o que ele pode trazer para essa investigação.

CA - Quais são as informações que o senhor tem sobre Vallejos?
MAO - Não temos elementos que indiquem Vallejos como integrante do grupo de agentes de inteligência da Marinha, como ele disse que era, e tampouco como integrante do aparato militar. Não há registro dele como militar e como pessoa de inteligência, ao menos formalmente. Digo oficialmente porque o que aconteceu na Esma [Escola de Mecânica da Armada, um dos maiores centros clandestinos de detenção da ditadura Argentina, ocorrida entre 1976 e 1983] ninguém dá conta, e a Marinha, oficialmente, diz que não sabe o que aconteceu lá, que não há nenhum registro. Quando eu peço o registro das vítimas que passaram ali, eles dizem “não o temos”. Bom, oficialmente, a partir da perspectiva oficial, Vallejos apenas foi soldado. Até agora, isso é tudo que há oficialmente sobre essa pessoa.

CA - Em entrevistas à imprensa brasileira no ano de 1986, Vallejos falou sobre o caso Tenorinho, o senhor acredita que ele poderia ajudar na elucidação do caso do pianista?
MAO - Tomara que assim seja. Entre outras coisas, é por esse motivo que pedi que ele seja extraditado para a Argentina. Uma investigação formal sobre o músico recém começou agora em fevereiro, para saber o que aconteceu com ele. De acordo com as informações que eu tenho, o músico teria sido sequestrado dias antes do golpe militar, e a morte haveria ocorrido dois ou três dias depois do golpe. Então eu me apoio nisso para poder abrir a investigação. Então, agora, formalmente, a Argentina está investigando na Causa Condor a morte do músico. E como estou investigando formalmente a morte do músico, entre outras coisas pedi a extradição de Vallejos.

CA - E sobre a participação do governo do Brasil na causa Condor. O senhor acredita que Vallejos poderia ajudar no esclarecimento? Na entrevista de 86, Vallejos falou da participação de uma pessoa da embaixada do Brasil em Buenos Aires, que teria ido à Esma ver Tenorinho.
MAO - Veremos de que maneira que isso se pode esclarecer, ele pode ser um mitômano ou estar falando a verdade. Veremos isso a partir do que ele declarar quando estiver em Buenos Aires, então. Porque ele pode querer ou não querer colaborar. Se for indiciado, pode confirmar essa informação ou negá-la. É difícil antecipar o que ele pode dizer. Se ele incriminar um funcionário brasileiro, temos que ver de que maneira teremos acesso à informação, ouvi-lo, tentar ter acesso a algum documento que o governo brasileiro tenha.

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